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Sinpol diz que estrutura da Polícia Civil é absurda, enquanto Estado cita Dourados como exemplo

Ademir Almeida
Prédio da perícia foi inaugurado há pouco tempo, mas possui problemas, como o não funcionamento do I

 Encerrando a série de reportagens do Dourados News que apura a estrutura de efetivo das polícias em Dourados, o foco é na Polícia Civil.

Para o vice-presidente do Sinpol/MS (Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul), Roberto Simeão, a realidade encontrada na cidade de mais de 200 mil habitantes é “absurda”. Além da falta de efetivo que para ele, é evidente, existe também a sobrecarga dos policiais e falta de estrutura.

“Em Dourados, assim como no Estado, o déficit de policiais civis é evidente há tempos. Precisamos de, no mínimo, mais 20 investigadores e 10 escrivães. Não tem gente suficiente, então as investigações e os inquéritos andam lentamente ou simplesmente ficam parados. Temos um concurso em andamento para convocação de 175 investigadores, que não adianta nada para o Estado, que tem déficit de 800, e nem para Dourados. Para cá, desses novos convocados, virão apenas quatro. Estamos falando da segunda maior cidade do Estado, é realmente um absurdo”, apontou o sindicalista.

Um exemplo da falta de efetivo e estrutura, citado pelo sindicato, é a Urpi (Unidade Regional de Perícia e Identificação), entregue no ano passado. A obra, que teve custo total de R$ 897.913,74 e foi construída em uma área de 693,12 metros quadrados no bairro Terra Roxa, em terreno doado pela prefeitura, não funciona como deveria.

“Faltam papiloscopistas. Temos um quadro atual de seis pessoas que tem ainda de fazer plantão noturno, sendo que uma está de atestado. Ou seja, na realidade são duas pessoas atendendo a uma demanda diária de no mínimo 100 identidades por dia, porque o atendimento é para Dourados e região”.

De acordo com Simeão, o IML (Instituto Médico Legal), que deveria funcionar no mesmo prédio, tem apenas a parte de atendimento a exames de lesão corporal e funcionamento. Os exames cadavéricos de autópsia não podem ser feitos na unidade, porque não há equipamentos adequados.

“Esses exames cadavéricos são feitos de forma improvisada pelos peritos nos hospitais e funerárias, porque na unidade, apesar de ser um prédio novo, não temos os equipamentos necessários”.

Há problemas, ainda, de policiais que acumulam função, não recebem hora extra, e ainda fazem o trabalho que deveria ser feito por outras instituições, como é o caso no que diz respeito à população carcerária.

“Em Dourados, temos a Unei [Unidade Educacional de Internação] masculina interditada, o que lota a delegacia. O policial ao invés de estar investigando, está lá cuidando de menores. É uma situação crítica para os infratores, e para o trabalho dos policiais também. Se na Unei estava ruim, lá está pior ainda. O policial tem que fazer o serviço dele, cuidar de menores, e cuidar dos presos também, sendo que isso é função da Agepen [Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário]. Dourados tem previsão de construção de uma cadeia pública faz oito anos, o que diminuiria a sobrecarga, mas até hoje, nada”.

Por fim, o sindicalista disse que enquanto nada do que destacou mudar, quem ‘sofre’ é a população. E questionou a bastante divulgada redução dos índices de criminalidade por parte do Estado.

“Eu não acredito em índices de redução de criminalidade. Como reduz se está faltando gente? É uma realidade inversamente proporcional. Quanto menos pessoas trabalhando na segurança pública, mais segurança? Qual o sentido disso? Enquanto o Estado diz que não tem recurso para investir, quem sofre é a sociedade, com a realidade de impunidade na qual estamos vivendo”, finalizou Simeão.

Para Estado, “número de policiais existentes é suficiente para atender a demanda”

O Dourados News procurou a Sejusp/MS (Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul), que rebateu o que foi apontado pelo Sinpol/MS nas declarações acima e também pela ACS PM BM MS (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar de Mato Grosso do Sul) em matéria publicada ontem (confira aqui).

De acordo com a assessoria de comunicação do órgão, o secretário Wantuir Jacini esclareceu que “por questões de segurança a Sejusp/MS não divulga número de efetivo policial em municípios específicos, mas o número de policiais existentes é suficiente para atender a demanda de Dourados. Prova disso é a eficiência e competência de todos os policiais que atuam no município, que pelo segundo ano consecutivo é a única cidade do Estado a reduzir os crimes que mais impactam a sociedade, que são aqueles cometidos contra o patrimônio e contra a vida”.

Ainda de acordo com a nota encaminhada pela assessoria, a Urpi (Unidade Regional de Perícia e Identificação) “é um prédio novo, inaugurado recentemente e com equipamentos modernos, que na gestão anterior não existiam. Os postos de identificação, a identidade (atendimento ao público) é prioridade.

Com relação aos plantões policiais e da perícia, esses são feitos de acordo com a necessidade e as escalas de serviços determinadas pelas delegacias regionais”.

Por fim, a assessoria destacou investimentos que têm sido feito nas polícias de Dourados.

“Na última quinta-feira, dia 7 de março, 27 novas viaturas foram entregues ao município contemplando as polícias Civil, Militar, DOF [Departamento de Operações de Fronteira], Defron [Delegacia Especializada em Repressão aos crimes de Fronteira] e PMRE [Polícia Militar Rodoviária Estadual], que também foi contemplada pelo programa Enafron (Estratégia Nacional de Fronteira), com armamento, equipamentos e mobiliários. Ainda este mês as polícias de Dourados devem receber novos investimentos", finaliza a nota, sem apontar que investimentos seriam esses.

Fonte:Dourados News


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