Policial civil caminhou 320 km até igreja para pedir pela vida de amigos
Fonte: Campo Grande NewsMovido pela fé e o desejo de ver amigos e filhos de amigos recuperados de doenças graves, o policial civil aposentado Antonio Carlos Brum, de 56 anos, colocou a mochila nas costas para realizar um caminho sagrado no interior de São Paulo e chegar até o santuário de Nossa Senhora Aparecida. A soma para o álbum de recordações é de 320 quilômetros de caminhada e lições infinitas.
Essa foi a segunda vez que o policial encarou o percurso. “Na primeira vez, outro policial havia feito o caminho e comentou comigo. Falou da espiritualidade do trajeto e da doação dos moradores locais aos peregrinos. Diante disso, em dezembro de 2019, exatamente no dia 22 daquele mês sai da cidade de Ouro Fino fazendo um percurso de 240 quilômetros aproximadamente chegando no santuário no dia 31. Pude agradecer minha aposentadoria e também pedir por amigos que não estavam bem de saúde ou financeiramente”, conta.
Dessa vez Antonio fez o percurso das Águas da Prata, que é 320 quilômetros. “Era um desejo de me encontrar espiritualmente. O caminho proporciona isso com a humildade, a integração com a natureza, afinal o caminho tem paisagens exuberantes, que te fazem sentir pequenininho diante daquela criação de Deus”, conta.
Desde que Antonio soube do trajeto, se prepara fisicamente, faz a mochila e segue. “A preparação é importante. Eu não tinha muita noção na primeira vez, mas na segunda já utilizei tênis para trekking, meias com fios específicos para não dar calos, camisetas com proteção UVA e UVB, mochila com amarração própria para longas distâncias. A preparação física também é importante, caminhar bastante e realizar treino com a mochila, que não pode ser muito pesada, no máximo 10% do seu peso. A preparação emocional o caminho te prepara”, ressalta
O policial aposentado explica que existem ensinamentos diferentes e que só fazendo o caminho para sentir. “Caminhos longos no meio da mata que te fazem sentir a presença divina e sem perceber eu me encontrava chorando. Antes da viagem, me considerava uma pessoa dura, os 20 anos na polícia haviam me deixado assim e jurava que isso não aconteceria comigo. Estava enganado, em determinado trecho chorei por quilômetros A explicação que eu posso dar é que nesse momento você se encontra espiritualmente”.
Antonio não esquece o semblante das pessoas boas que encontrou pelo caminho e nem os desafios, com direito a extensas subidas. “São extremamente íngremes e não adianta ter preparo excepcional, tudo tem que ser feito com tranquilidade”.
Nessa segunda viagem Antonio fez o caminho dos maratonistas. No terceiro dia diz que estava “sem gás”, mas a força de vontade supera. “Existe uma subida de 2 quilômetros que no final tem a inscrição de Porteira do Céu, de tão alta que é a subida. Existe a Serra do Caçador também, que são mais ou menos 6 quilômetros de subida, essa é difícil. Mas a mais difícil é a da Serra de Luminosa, divisa de Minas com São Paulo. Lá se chega 1.700 metros de altitude”.
As emoções são constantes no caminho, mas o carinho dos moradores no trajeto, segundo Antonio, é uma das melhores coisas. “Um simples copo d'água que te oferecem, as frutas e biscoito que são deixados em caixas por onde passamos, como se fossem oferendas a nós, é maravilhoso”.
Na chegada, agradecimento pela oportunidade de ter vencido o caminho e um pedido especial à vida dos amigos. “Pedi saúde para filhos de amigos que estão com câncer e para amigos que estão com problemas no coração. Como tenho muitos amigos eu imprimi e plastifiquei os logos das três mídias que tenho mais amigos, levei na frente do altar onde está a imagem de Nossa Senhora e pedi proteção a todos, além das fotos dos amigos que se encontram doentes”.
Antonio também diz que perdeu muitos amigos policiais em 2020 e, por isso, pediu pela vida de todos os profissionais da polícia Militar e Civil que ficaram.