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Policiais brasileiros e sul-africanos testam tecnologia para smartphones

 Um aplicativo para smartphones que fornece, em tempo real, a localização do policial e envia vídeos e áudios para uma central administrativa. Essa é a tecnologia Smart Policing, que está sendo testada nas unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) de Santa Marta e de São Carlos, no Rio de Janeiro, além de áreas de cidades da África do Sul.

O projeto é uma parceria entre o Instituto Igarapé, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PM-RJ) e instituições no país africano. O desenvolvedor de sistemas no Instituto Igarapé Bruno Siqueira explica que o diferencial da tecnologia em relação aos óculos já em uso pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) é que o equipamento do Bope armazena as informações, enquanto que o aplicativo envia os dados automaticamente.

“Ele é um aplicativo para celular, que cada policial vai carregar no bolso ou no colete, que vai enviar a localização dele, vídeo e áudio do que está acontecendo. Com isso, a gente consegue aumentar a transparência da Polícia Militar e o capitão, ou quem estiver no comando, consegue consultar, por uma interface administrativa, todo o histórico do efetivo policial dele. Pode voltar no tempo para procurar ocorrências que tenham sido relatadas, tanto por policiais quanto por moradores, poder averiguar os fatos como eles aconteceram, por meio de todos os vídeos, todo o histórico e todos os traços do policial”.

O capitão Márcio Rocha, comandante da UPP Santa Marta, diz que a unidade está muito satisfeita com os testes e espera que a tecnologia melhore o trabalho da polícia nas comunidades pacificadas. “Isso vai garantir não só uma credibilidade da ação policial, vai dar uma confiança maior ao policial, como também vai servir de meio de prova para contestação de qualquer ação. O policial que age correto, que age dentro da regularidade, ele só tem a ganhar com isso, ele só tem a se motivar. E, consequentemente, aquele morador que pensar em desestabilizar o projeto, em tentar desmotivar o policial com ofensas, com palavras mais baixas, ao perceber que está sendo filmado, ele automaticamente vai mudar a sua postura”.

A tecnologia deve ser implementada ainda este ano, para uso do efetivo de 40 policiais da UPP Santa Marta e dos 80 da UPP de São Carlos. O aplicativo foi apresentado hoje (1º) a uma delegação da África do Sul que está no Rio de Janeiro para conhecer políticas de segurança pública e sociais implantadas na cidade. São 20 chefes de polícia, diretores de prefeituras e especialistas em segurança pública que visitaram o Grupo Cultural Afroreggae e a comunidade Santa Marta, no Morro Dona Marta, a primeira a receber uma UPP, no final de 2008. Amanhã, a delegação deve conhecer o Centro de Comando do Rio de Janeiro, e também participar de seminários com especialistas acadêmicos.

O diretor de Pesquisa do Instituto Igarapé, Robert Muggah, diz que o país africano tem problemas parecidos com os do Brasil. “É uma oportunidade também para trocar experiência Sul-Sul entre dois países que têm muitas coisas em comum. A cidade do Rio e as da África do Sul têm problemas com urbanismo, com violência, com gangues, drogas, jovens que não tem emprego. E eu acho que o Brasil tem experiências muito boas para compartilhar com outros parceiros”.

O presidente da South African Cities Network, Sithole Mbanga, destaca que o Brasil tem avanços em relação à África do Sul na área de segurança. “Aqui no Rio, as UPPs têm alguns pilares de intervenção que são baseados em evidências, ação comunitária e policiamento. Na África do Sul só tem o policiamento. Uma coisa que é superimportante que podemos aplicar na África do Sul é utilizar informação, dados, evidências para demostrar os impactos positivos e negativos dos programas, porque lá não temos conhecimento sobre o que os policiais fazem ou não fazem, existe uma lacuna entre os policiais e a comunidade”.

De acordo com ele, após essa visita será iniciada uma discussão nas cidades da África do Sul para verificar que práticas brasileiras podem funcionar lá, levando os projetos também para outros países, como Namíbia, Moçambique, Angola e Lesoto.

Para o pesquisador sênior do Instituto Igarapé, Robson Rodrigues, que já foi coordenador das UPPs, uma ideia que pode ser levada para outros países é a busca pela legitimação da ação policial com a comunidade, invertendo a ideia geral de que a força policial serve apenas para combater o crime.

“Quando você busca legitimidade com a população você economiza força e atinge melhor seus objetivos. Nesse sentido, talvez muitas polícias na América Latina, na Ásia, que foram polícias coloniais, polícias que não se identificaram com a sua população, pelo contrário, se afastaram e desrespeitaram muito esses direitos humanos, não viram na sociedade e nas pessoas alguém que seja igual. Isso [a aproximação com a comunidade] talvez sirva como uma técnica, uma tecnologia de você mediar mais do que reprimir, de você dialogar mais do que combater e você usar ao máximo o diálogo, a audição qualificada, a articulação comunitária como instrumento de prevenção. Então, nesse sentido, isso é válido aqui, na África, na América Latina.”

Agência Brasil - Akemi Nitahara


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