Milícias levam mais violência ao México
Uma consulta ao site do jornal mexicano “El Universal”, do Grupo de Diários América (GDA), do qual O GLOBO faz parte, dá uma ideia da degradação da vida do país pela violência do crime organizado. Uma reportagem relata um acordo entre os governos central e do estado de Guerrero para passar ao controle federal o município de Chilpancingo, campo de batalha entre organizações criminosas. Uma operação da Marinha em Sinaloa apreendeu 200 quilos de drogas, 20 armas pesadas e 28 veículos, 14 deles blindados, além da captura de Jesús Peña, “El 20”, do Cartel do Pacífico. A Procuradoria Geral de Jalisco informou sobre o descobrimento de uma fossa clandestina com 15 corpos, provavelmente vítimas da guerra entre os cartéis.
A eleição do presidente Enrique Peña Nieto levou novamente ao poder o velho PRI, mas trouxe forte esperança de modernização da economia do país. Ele está cumprindo várias promessas de campanha, como a quebra do monopólio estatal de petróleo, abrindo espaço para o investimento privado na exploração e criando condições para a aceleração do crescimento econômico que, em 2013, ainda ficou em magros 1,1%, o menor em quatro anos, mas com inflação baixa.
Na área do combate ao crime organizado, a diretriz básica de Peña Nieto foi mudar completamente a estratégia do antecessor, Felipe Calderón, que mobilizou as Forças Armadas para uma luta inglória contra os poderosos cartéis da droga, donos de pedaços do território mexicano. A política não deu os resultados esperados, na medida em que a violência explodiu e o poder econômico dos criminosos injetou doses maciças de corrupção no Exército. Mas Peña Nieto não foi capaz de delinear uma nova estratégia convincente.
No vácuo da desmilitarização do combate ao crime organizado, surgiram organizações paramilitares para combater o reinado dos cartéis. E esta é uma péssima notícia. O mesmo ocorreu na Colômbia nos anos 1990, diante da incapacidade de o Estado derrotar as organizações criminosas. E foi um caos: os paramilitares se tornaram tão ou mais poderosos que os grupos que combatiam e passaram a usar todas as suas armas de luta: sequestros, extorsões, bloqueios de estradas, chacinas e saques.
No México, os paramilitares surgiram em Michoacán, para combater o sanguinário cartel Cavaleiros Templários. Quando percebeu que isto seria desastroso, Peña Nieto tentou desbaratar o grupo e, não o conseguindo, incorporou-o aos Corpos de Defesa Rural. O que ele aparentemente não percebeu é a elevada probabilidade de as “autodefesas” serem financiadas por cartéis inimigos dos Cavaleiros.
Enquanto as reformas econômicas previstas pelo jovem presidente seguem seu curso, ele precisa concentrar os esforços na situação de segurança, que pode retardar os planos de modernização e aceleração do crescimento. Ser leniente com milícias é suicídio. O próprio Rio tem esta experiência.
Texto extraído do Globo.com