Mestrado em gestão pública lapida servidores em busca de excelência
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, quase 8% dos brasileiros economicamente ativos são funcionários públicos, o equivalente a 11 milhões de pessoas. Nesse exército de servidores, apenas 15% trabalham efetivamente para colocar a máquina pública em funcionamento, estima o cientista político Luiz Felipe d'Avila, presidente do Centro de Liderança Pública (CLP), entidade dedicada à capacitação de gestores públicos. Não à toa, serviço público é sinônimo de ineficiência para a esmagadora maioria dos brasileiros. Esse quadro, contudo, pode ser revertido, prega D’Avila. "O serviço público não precisa de mais dinheiro, mas, sim, de servidores mais capacitados e de uma gestão transparente, baseada em análises minuciosas dos problemas do setor", diz.
Preparar servidores para atingir a excelência na administração de projetos e equipes é o principal objetivo do mestrado stricto sensu em liderança e gestão pública que a CLP oferece a partir de agosto. As inscrições se encerram na próxima segunda-feira e o valor total do programa é de 46.000 reais. O site do CLP reúne todas as informações sobre o curso. "O alvo são os funcionários de carreira, aqueles que permanecem nas repartições mesmo quando há trocas no topo da hierarquia", diz D’Avila.
O currículo do curso é inspirado no da Kennedy School, da Universidade Harvard, reconhecido por formar gestores públicos do mundo inteiro. A duração é de 15 meses, sendo que no último bloco de aulas os participantes fazem uma imersão na própria escola de governo americana. "Ao longo do curso, os participantes vão se debruçar sobre um problema real de sua cidade ou Estado, em áreas como educação, saúde ou segurança pública. Em Harvard, vão conhecer experiências internacionais de sucesso." Também durante o curso, os servidores devem apresentar projetos a seus gestores, que deverão discutir a eventual adoção das ações.
Formar a chamada "burocracia eficiente", aquela que garante o bom funcionamento do Estado, é um desafio que outras nações já enfrentaram — e colhem bons frutos. É, segundo D'Avila, o caso de Grã-Bretanha, Coreia do Sul e China. Por aqui, diz o cientista político, também há bons exemplos, como os municípios de Votuporanga, em São Paulo, e Canoas, no Rio Grande do Sul. "São ilhas de excelência, que conseguiram, graças ao cuidado na formação de seus servidores, zerar filas em hospitais e elevar índices educacionais", diz.
Além dos ganhos evidentes à população, se o Brasil conseguir multiplicar a experiência dessas cidades, pode reverter a imagem ruim do funcionalismo. "Quando a máquina pública funciona, o setor público concorre em igualdade com o privado, que hoje oferece serviços melhores. Para isso, é preciso transparência na aplicação dos recursos, de modo que o cidadão saiba onde o dinheiro de seus impostos está sendo aplicado. Isso tudo depende dos projetos elaborados em cada esfera de governo."
No curso de mestrado, os servidores aprenderão a dimensionar problemas, desenvolver projetos, apresentá-los aos gestores e a medir resultados. "É preciso devenvolver a competência de elaborar projetos de qualidade que não sejam engavetados por questões políticas", diz D'Avila.
Fonte:Veja