Mães usuárias de drogas tentam se livrar do vício e reaver filhos em MS
Cerca de 90% das crianças dos 14 abrigos de Campo Grande são filhas de usuários de drogas, segundo estimativa da juíza da 1ª Vara da Infância e da Juventude, Katy Braum. As mulheres mães desses pequenos lutam para se recuperar e conseguir reaver suas crianças.
Para quem lida com essa realidade, a situação torna-se “assustadora” quando são colocados nomes nos números e as estatísticas, transformadas em histórias. Essa é a opinião da pastora Joelma Fachino. Ela é responsável pelo abrigo Peniel, que já chegou a cuidar em torno de 60 meninos e meninas. “De dois anos para cá, a situação está assustadora”, resume Joelma.
O presidente do Conselho Estadual Antidrogas do estado, promotor de Justiça Sérgio Harfouche, acompanha a situação. “Em um dos abrigos [em certa ocasião], três de 10 crianças abaixo de um mês de vida estavam em crise de abstinência. Em outro, de cada 10, oito estavam”.
Em busca de libertação
“A droga nos tira do foco dos filhos. Nós perdemos a noção do que os filhos precisam”, fala uma jovem de 25 anos, usuária desde os 18 e mãe de quatro crianças. Ela perdeu a guarda dos pequenos, mas diz que está tentando a recuperação para voltar a conviver com eles.
“Eu tirava [alimentos] dos meus filhos para comprar pasta base. Todos os dias minha família me levava [alimentos] e eu vendia. Tive esse erro sim, mas vou mudar para mostrar à sociedade que sou capaz”, diz.
Ela conta que aos 16 anos começou a fumar maconha, aos 18 virou traficante e, ao ser presa pelo crime alguns anos depois, já tinha três filhos. “Eles ficaram com o pai. Eu saí da prisão três anos e seis meses depois e de raiva, em uma brincadeira, comecei a usar pasta base. Fiquei 15 dias usando direto”.
Três anos após sair da cadeia, a jovem teve o quarto filho e, em lágrimas, conta que as crianças a viam sob efeito do entorpecente e falavam para ela que tinham orado para que parasse de usá-lo.
Derrubada pelo vício
Uma mulher de 36 anos também teve os filhos levados por conta da dependência química. “Perdi tudo. Perdi minha vida. Perdi de vê-los crescerem”, diz. Ela conta que em 22 anos como usuária já se prostituiu, matou e vendeu a casa própria para traficantes como forma de sustentar o vício.
O G1 perguntou o que ela sentia, como mãe e mulher, ao ver os filhos serem tirados dela. “É triste, mas seria muito mais triste se estivessem comigo naquelas condições”.
Quando a primeira filha nasceu, a mulher já era usuária havia cinco anos. Logo depois, a necessidade pela droga se agravou. “Eu arrumei a mala, fiquei seis dias acordada cheirando cola, larguei minha filha com minha irmã de 13 anos, me prostituía e pegava o dinheiro para comprar mais [droga]”.
Ela teve outros dois filhos, todos de pais diferentes. Todas as crianças quase foram para adoção e agora são cuidadas por parentes. “Não vi meus filhos crescerem. Até a casa perdi para as drogas. Entreguei por R$ 7 mil, mas nem vi o dinheiro, pegava em cola”.
Incertezas
Mãe de quatro crianças, uma mulher de 29 anos já teve todas levadas para abrigos. “Fiquei sabendo que dois foram adotados”, diz.
Ela também já esteve na cadeia e diz que o uso de crack se intensificou quando a menina mais nova foi levada para abrigo. Nessa época, os dois primeiros filhos já estavam recolhidos.
Perfil
Conforme Harfouche, normalmente, a mãe que perde os filhos por ser usuária de drogas teve ou tem vários parceiros e não se sensibiliza com a maternidade. “Quando a mãe é dependente, ela oferece o corpo e, às vezes, o filho. Se você diz para ela 'aqui está a droga e aqui está seu filho', e se ela souber que se escolher um ficará sem o outro, escolhe a droga”.
De acordo com a assessoria de imprensa do Justiça de Mato Grosso do Sul, as crianças são encaminhadas para adoção após esgotadas todas as chances de pais ou parentes ficarem com as guardas.
Conforme Harfouche, o artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz que a criança ou adolescente tem direito a ser criado com a família, “desde que em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes”.
O mesmo artigo diz ainda que todas as crianças abrigadas devem passar por avaliação a cada seis meses, devendo o relatório ser analisado pelo Poder Judiciário, “que deve decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta”. A permanência máxima em abrigo é de dois anos, “salvo comprovada necessidade”, e que a “manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência”.
Para quem lida com essa realidade, a situação torna-se “assustadora” quando são colocados nomes nos números e as estatísticas, transformadas em histórias. Essa é a opinião da pastora Joelma Fachino. Ela é responsável pelo abrigo Peniel, que já chegou a cuidar em torno de 60 meninos e meninas. “De dois anos para cá, a situação está assustadora”, resume Joelma.
O presidente do Conselho Estadual Antidrogas do estado, promotor de Justiça Sérgio Harfouche, acompanha a situação. “Em um dos abrigos [em certa ocasião], três de 10 crianças abaixo de um mês de vida estavam em crise de abstinência. Em outro, de cada 10, oito estavam”.
Em busca de libertação
“A droga nos tira do foco dos filhos. Nós perdemos a noção do que os filhos precisam”, fala uma jovem de 25 anos, usuária desde os 18 e mãe de quatro crianças. Ela perdeu a guarda dos pequenos, mas diz que está tentando a recuperação para voltar a conviver com eles.
“Eu tirava [alimentos] dos meus filhos para comprar pasta base. Todos os dias minha família me levava [alimentos] e eu vendia. Tive esse erro sim, mas vou mudar para mostrar à sociedade que sou capaz”, diz.
Ela conta que aos 16 anos começou a fumar maconha, aos 18 virou traficante e, ao ser presa pelo crime alguns anos depois, já tinha três filhos. “Eles ficaram com o pai. Eu saí da prisão três anos e seis meses depois e de raiva, em uma brincadeira, comecei a usar pasta base. Fiquei 15 dias usando direto”.
Três anos após sair da cadeia, a jovem teve o quarto filho e, em lágrimas, conta que as crianças a viam sob efeito do entorpecente e falavam para ela que tinham orado para que parasse de usá-lo.
Derrubada pelo vício
Uma mulher de 36 anos também teve os filhos levados por conta da dependência química. “Perdi tudo. Perdi minha vida. Perdi de vê-los crescerem”, diz. Ela conta que em 22 anos como usuária já se prostituiu, matou e vendeu a casa própria para traficantes como forma de sustentar o vício.
O G1 perguntou o que ela sentia, como mãe e mulher, ao ver os filhos serem tirados dela. “É triste, mas seria muito mais triste se estivessem comigo naquelas condições”.
Quando a primeira filha nasceu, a mulher já era usuária havia cinco anos. Logo depois, a necessidade pela droga se agravou. “Eu arrumei a mala, fiquei seis dias acordada cheirando cola, larguei minha filha com minha irmã de 13 anos, me prostituía e pegava o dinheiro para comprar mais [droga]”.
Ela teve outros dois filhos, todos de pais diferentes. Todas as crianças quase foram para adoção e agora são cuidadas por parentes. “Não vi meus filhos crescerem. Até a casa perdi para as drogas. Entreguei por R$ 7 mil, mas nem vi o dinheiro, pegava em cola”.
Incertezas
Mãe de quatro crianças, uma mulher de 29 anos já teve todas levadas para abrigos. “Fiquei sabendo que dois foram adotados”, diz.
Ela também já esteve na cadeia e diz que o uso de crack se intensificou quando a menina mais nova foi levada para abrigo. Nessa época, os dois primeiros filhos já estavam recolhidos.
Perfil
Conforme Harfouche, normalmente, a mãe que perde os filhos por ser usuária de drogas teve ou tem vários parceiros e não se sensibiliza com a maternidade. “Quando a mãe é dependente, ela oferece o corpo e, às vezes, o filho. Se você diz para ela 'aqui está a droga e aqui está seu filho', e se ela souber que se escolher um ficará sem o outro, escolhe a droga”.
De acordo com a assessoria de imprensa do Justiça de Mato Grosso do Sul, as crianças são encaminhadas para adoção após esgotadas todas as chances de pais ou parentes ficarem com as guardas.
Conforme Harfouche, o artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz que a criança ou adolescente tem direito a ser criado com a família, “desde que em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes”.
O mesmo artigo diz ainda que todas as crianças abrigadas devem passar por avaliação a cada seis meses, devendo o relatório ser analisado pelo Poder Judiciário, “que deve decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta”. A permanência máxima em abrigo é de dois anos, “salvo comprovada necessidade”, e que a “manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência”.
Fonte:G1 MS