Índice de suicídios entre policiais é alarmante e escancara problemas crônicos da estrutura de segurança pública nos estados
Fonte: Feipol-CONApenas em uma semana, em pleno mês de combate ao suicídio, denominado por “Setembro Amarelo”, dois policiais - uma papiloscopista da Polícia Civil do Rio de Janeiro e um outro papiloscopista da Polícia Federal - cometeram suicídio.
Além destes casos, um escrivão da Polícia Civil, segundo matéria publicada pelo sindicato dos policiais civis da Bahia, ameaça tentar contra a própria vida por uma série de situações por ele relatada, que inclui, dentre outros fatores, atraso do salário, perseguição por parte de delegados e um quadro de síndrome do pânico e depressão, muito comum entre profissionais da segurança pública.
A atividade policial é considerada pela Organização Internacional do Trabalho como a segunda mais estressante do planeta e, no Brasil, agravada pela crônica falta de estrutura, exploração de carga horária, alto índice de assédio moral e um formato de carreira arcaico. Tais fatos se consolidam com dados da Fundação Getúlio Vargas, que aponta que 94% do efetivo policial apresenta nível alto ou médio de estresse ocupacional.
A cada ano os investimentos na polícia civil são reduzidos, o efetivo encolhe e com isso há uma deterioração explicita da Instituição a nível de Brasil e o cenário, se depender dos governos, não tende a melhorar. “O cenário é caótico e traz ainda mais apreensão aos policiais civis ao verem direitos sendo arrancados, como o texto da PEC da Reforma da Previdência. A profissão que mais adoece mentalmente seus trabalhadores, com maior índice de suicídios e que vive/sobrevive em média até os 55 anos de idade, bem inferior à média brasileira, deve ter um cuidado especial por parte dos governantes, seja nas condições de trabalho ou na construção de uma carreira atrativa que valorize o mérito, mas infelizmente o que vemos é um caminho exatamente contrário”, declarou Marcilene Lucena, presidente da Feipol-CON.
O assunto tem sido discutido em sindicatos por todo o país, e em Mato Grosso do Sul não é diferente. O Sinpol, preocupado com a situação, tem um departamento de assistência social preparado para ajudar e acompanhar o policial civil. “É preciso ter atenção a qualquer mudança, ainda mais na carreira da policial, onde o instrumento de trabalho é letal e favorece um pouco mais a atitude. Quem fala que quer se matar, na realidade quer apenas acabar com um problema ou uma dor, mas não consegue se livrar daquilo, e aí acaba chegando ao ponto do suicídio. Muitos pedem ajuda e nós fazemos todo o acompanhamento, mas ainda tem vários que não pedem, camuflam o sofrimento e infelizmente não conseguimos identificar, por isso falar é o ponto principal”, declarou Bernardete Pichineli, assistente social do Sinpol.