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Assédio Moral e as doenças psicoemocionais

Fenapef

A vítima de assédio moral tem ameaçada a dignidade, as suas relações afetivas e sociais, prejudicando na qualidade de vida. Especialistas afirmam que o assédio causa diversos danos à saúde que variam desde angústias e crises de choro até um nível alto de depressão, consumo de álcool e drogas.


O assédio moral se configura em comportamentos abusivos por parte de um chefe que afeta a integridade física, moral ou psíquica do subordinado. No Serviço Público o abuso ocorre quando algumas chefias obrigam servidores a tarefas incompatíveis, oferecem excesso de metas e ainda se utilizam dos Processos Administrativos Disciplinares (PADs) como instrumentos de ameaças e perseguições.


Para o vice-presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Distrito Federal (SINDIPOL/DF), Flávio Werneck, o Departamento de Polícia Federal vem se tornando terreno fértil propenso a proliferação do assédio moral. “Isto ocorre em face do crescente radicalismo nas relações de poder e hierarquia dentro do Órgão, visto que, muitas vezes, essa é a única maneira de manutenção do status e do poder adquiridos”, informou no site do SINDIPOL/DF.

 

Assediador despreparado e (pasmem) doente

Werneck diz que o chefe não dispõe sobre o vínculo funcional do servidor. “Não podendo demiti-lo, passa a humilhá-lo e sobrecarregá-lo de tarefas inócuas”. Outro aspecto é que no setor público muitas vezes os chefes são indicados por laços de amizade ou políticos, e não por sua qualificação técnica e preparo para o desempenho da função. “Despreparado para o exercício da chefia, e muitas vezes sem o conhecimento mínimo necessário para tanto, mas escorado nas relações que garantiram sua indicação, o chefe pode se tornar arbitrário, por um lado, buscando compensar suas evidentes limitações, e por outro, considerando-se intocável”.


Do ponto de vista clínico, o assediador é uma pessoa que tem algum tipo de doença psicoemocional e se utiliza do poder como gatilho. O médico psiquiatra Roberto Tonanni de Campos Mello explica que a atuação de uma pessoa que assedia é decorrente de algum tipo de neurose, ou até psicose. Ele escolhe, de forma irracional, uma determinada pessoa e é nessa que irá fixar-se.


“O assediador não se reconhece assim. Ele acha que todo problema está no outro, que não está assediando. Acredita que o outro é quem não quer trabalhar e que ele não está sendo injusto”, relata o médico. “Não podemos prever de antemão, a reação do assediado. Essa pessoa, em conseqüência do assédio, pode cair em depressão ou até psicotizar, dependendo de sua estrutura emocional. Esses comportamentos, do assediador e do assediado em resposta àquele, refletirão sobre o ambiente de trabalho de modo negativo, afetando a produtividade do setor”.


Tonanni observa que como matéria jornalística, midiática ou legal, o assediador é visto apenas como alguém que merece receber uma punição, a qual espera ser suficiente para impedi-lo. Porém, ele necessita tratamento para que possa reconhecer e se libertar dos distúrbios que o levam a tal comportamento. “Tirá-lo do setor apenas, não resolverá o problema. Ele precisa ser submetido a tratamento, pois quando surgir outra situação, nova oportunidade, novo cargo de chefia, fará tudo novamente”.
 
BASTA!

Não se pode mais tolerar assédios morais e enfrentar injustamente um PAD para descobrir que se tem um problema grave no setor. Medidas devem ser tomadas e a iniciativa pode partir do grupo ou da própria vítima. O problema é que muitas pessoas não procuram ajuda.


“Pessoas que sofrem assédio moral não procuram ajuda, talvez por falta de conhecimento sobre o tema. Elas acreditam que é algo individual, isolado, quando na verdade muitas passam por isso”, explica a psicóloga do Departamento de Polícia Federal (DPF/SP), Denise Mazzaferro Ehlers. “O assediado não precisa procurar necessariamente um psicólogo, pode ser um colega, alguém que confie”, conclui.


Para Flávio Werneck, várias ações podem ser implantadas pelo Órgão da PF para minimizar o quadro. “Uma Lei Orgânica que valorize todos os seus servidores, com atribuições delimitadas e que visem à democratização do DPF, seria o primeiro passo para dificultar a atuação dos agressores. Ademais, recolocaria o Departamento na esteira da história democrática que vem sendo criada no país”, sugere.


Do ponto de vista jurídico, o advogado Evandro Fabiani Capano orienta que se procure o departamento jurídico de seu sindicato a fim de promover as ações competentes. “No âmbito do Departamento de Polícia Federal, se configurado o assédio, o assediador poderá responder disciplinarmente e civilmente pela conduta”, explica.


Quanto aos procedimentos do Departamento de Polícia Federal, Capano argumenta: “Em sentido Lato, a melhor solução será o Departamento promover palestras para a conscientização dos problemas que o assédio moral acarreta, e no plano estrito, quando detectado a ocorrência do assédio moral, instaurar procedimento administrativo para averiguação do ocorrido”


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